quarta-feira, 1 de junho de 2011

meu querido avô ...

Querido avô,
Sei que neste momento já não estás entre nós, não poderás comunicar com nenhuma das pessoas que pertence a este mundo, mas sei que ficarás a proteger-nos. A verdade é que já há algum tempo que não falávamos tão bem, que não nos entretínhamos com aquelas anedotas malucas que contavas em frente a toda a família, pois o estado em que estavas era cada vez pior.
Custava-me chegar à sexta-feira da escola, entrar em casa da avó e dirigir – me ao teu quarto onde te encontravas deitado numa cama e ver que dia após dia estavas pior, a ver que cada vez a falta de apetite para comer era maior, a força para nos agradecer a visita era menor, enfim … estavas cada vez mais em baixo. Notava-se nas tuas lágrimas, que querias falar connosco e não conseguias, que nos querias perguntar como corriam os estudos e não podias, que querias saber se estávamos bem e as tuas forças não o permitiam.
Passavam dias e dias e o teu estado era cada vez pior, até ao dia em que alguém disse “Chega !” , telefonaram à ambulância e levaram te para o hospital, onde apenas passaste sete dias. E depois ? Para onde foste ? Ninguém sabe ! Apenas sei que passaram dias e dias e nunca mais te vi, nunca mais ouvi a tua voz, as tuas despedidas, os teus agradecimentos ( “vem me ver todos os dias, Inês, eu não quero morrer sozinho neste quarto, sem antes ter uma visita tua”). Após o dia em que vi a ambulância ir, nunca mais a vi voltar e na verdade … nem nunca irei ver ! Sei que o teu “bilhete” para o hospital, naquela ambulância foi de ida, sem regresso … Sei que nunca mais vou poder ouvir a tua voz e os teus risos, tal como em criança eu ouvia, pois passava grande parte dos dias contigo, a ouvir rádio ou mesmo a ouvir as tuas histórias (que eu gostava tanto) de quando eras criança, tal como eu era na altura.
Enquanto criança, por vezes uma das minhas únicas prioridades eras tu, pois quando a minha mãe me dizia “Vens connosco ou ficas com o avô ?” . Fosse qual fosse o sítio, a maior parte das vezes era “Fico com o avô”. Sim, porque quando eu era criança eras como um pai para mim, pois a maior parte das vezes era contigo que eu ficava e passava os dias, foi contigo que eu aprendi a viver, a crescer e a dar valor ao que temos de melhor na vida.
Nestes últimos tempos, estava aos olhos de todos os que quisessem ver que o teu estado era de pleno sofrimento.
Depois que faleceu a avó, ambos sabemos que a tua vida nunca mais voltou a ser a mesma, mas eu compreendo, pois era a pessoa com quem passaste longos anos da tua vida, foi com ela que viveste os melhores momentos quando eram jovens e foi com ela que envelheceste, até ao dia em que ela faleceu.
A partir de agora, a estrelinha mais brilhante que estiver no céu, serás sempre tu <3
Avô, independentemente de estares nesta ou noutra vida, eu amar-te-ei sempre, obrigada por tudo o que fizeste por mim, eras o melhor avô do mundo <3.

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